PPGENT constrói pontes para o avanço da ciência através da interculturalidade
Autor: Nayara Rosolen - Analista de Comunicação
O Programa de Pós-graduação em Educação e Novas Tecnologias (PPGENT) da Uninter recebeu a primeira doutoranda e o primeiro mestrando estrangeiros em maio deste ano. Denise Delgado e Renzo Montero são vinculados ao Programa de Pós-graduação em Educação da Universidad de San Martín de Porres (USMP), em Lima, no Peru. Os acadêmicos conquistaram as vagas do Programa Move La America, lançado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) em 2024.
A parceria com a USMP já existe há alguns anos e começou a partir do contato da diretora da Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas (ESEHL) da Uninter, Dinamara Machado. Com o tempo, expandiu para outros setores da instituição, como a Internacionalização e o PPGENT. Assim, Dinamara e o coordenador do PPGENT, Luciano Frontino de Medeiros, designaram o doutor em História Social, André Luiz Cavazzani, para conduzir as interlocuções entre as instituição e agora o acompanhamento dos pesquisadores intercambistas.
A escolha não se deu por acaso, já que Cavazzani trata em seus estudos da interculturalidade e da convivência pacífica entre as diferenças. No doutorado, por exemplo, pesquisou as migrações e imigrações, na tese “Tendo o sol por testemunha: população portuguesa na Baía de Paranaguá (c. 1750-1830)“. O profissional também realizou intercâmbios e circulou por diversas universidades no exterior.
“Uma das maiores contribuições é a ideia de que a diferença não deve servir para afastar e criar muros, pelo contrário, a convivência mostra que é possível a manutenção da sua história como cidadão de um país […] A humanidade cresce com esses diálogos”, salienta o docente.
Para Luciano, essa oportunidade coloca o programa em uma “situação privilegiada”, que caminha na mesma direção do que a Uninter já tem feito na graduação e especialização, através da expansão de polos no exterior. Por isso, agora o corpo docente do programa de pós-graduação também se preocupa em avançar nessas articulações.
“Os estudantes vão estar em um outro ambiente, em uma outra cultura, vendo como os determinados aspectos que são relacionados a sua pesquisa acontecem nesse outro país, em termos culturais, educacionais, sobre vários aspectos e que podem ajudar depois na redação do documento, seja dissertação ou tese”, salienta.
Nesse sentido, Cavazzani garante que o centro universitário não abre mão de investir em pesquisa. E no contexto em que a educação à distância (EAD) tem sido questionada, a Uninter se mostra como “um farol” ao apresentar como é possível realizar o ensino aprendizado no formato, e com excelência.
Pesquisadores apostam em tecnologia e formação humanizada
Denise é natural de Cuzco, região dos Andes do Peru, mas já vive há muitos anos em Lima. É obstetra, realizou a graduação na USMP, assim como o mestrado em Saúde Sexual e Reprodutiva. Já atuou no Ministério da Saúde, em vários projetos pelo país de origem, e também na África pela Organização das Nações Unidas, formando novas obstetras, durante cinco anos. A pesquisadora a por diversas áreas da profissão, desde a docência até a istração. Agora no doutorado em Educação, também é docente na graduação e pós-graduação da USMP.
Com o olhar voltado para um atendimento mais humanizado, a pesquisadora trabalha no desenvolvimento de um aplicativo. Para Denise, os profissionais de saúde ainda am por um método de ensino muito tradicional, através de atividades como seminários e palestras. Por isso, a ideia é que a plataforma apresente questões relacionadas a saúde de forma mais eficaz e moderna, como forma de colaborar com a formação de profissionais e prestar apoio à população.
Assim, profissionais da área podem alimentá-lo com informações essenciais para a saúde, não apenas física, e os cidadãos têm o a questões que impactam diretamente sua vida e integridade. Como o o a conteúdos que tratam dos aspectos de um relacionamento e possíveis ações que levam à violência doméstica. Para que as pessoas possam se proteger antes de um acontecimento concreto e, muitas vezes, irreversível. Da mesma forma, encontrar instituições que possam acolher e colaborar nesses casos.
Renzo é professor e arquiteto, especialista em Gestão Building Information Modeling (BIM), ou Modelagem de Informação na Construção em português. O profissional verifica se projetos de pequeno a grande porte, como escolas e hospitais, são gerenciados corretamente. Já atou em projetos tanto privados quanto estatais, mas atualmente está focado em gerenciamento de projetos na própria empresa. Nascido em Trujillo, no norte do Peru, hoje também mantém residência em Lima, e é docente em duas universidades que dão aulas nos formatos presencial e virtual.
No mestrado, o pesquisador tem a proposta de uma comparação didática e como é possível complementar a metodologia de ensino que existe no Peru com a do Brasil. Junto com um grupo de colegas professores, Renzo lanças cursos em universidades privadas do Peru para a melhora do referencial curricular que chega a cada aluno de forma integral.
O mestrando, então, busca melhorar a qualidade de vida das pessoas. Para o produto final, visa desenvolver uma obra que apresenta questões relacionadas aos propósitos dos profissionais, para além de métodos que visam apenas o financeiro e não nos propósitos pessoais na educação.
“É preciso conhecer seus direitos, para que os outros também o respeitem”
Denise tem o intuito de “abrir a mente” dos usuários por meio do aplicativo desenvolvido. Principalmente em relação à violência doméstica, que mantém as pessoas por dependência ou outros tabus da sociedade. “Porque infelizmente uma vítima de violência fica ali. Ainda que esteja sofrendo, ainda que esteja no risco de vida […] É uma forma de todas as mulheres se empoderarem um pouco mais. Não é preciso lutar contra o homem, é preciso conhecer seus direitos, para que os demais também o respeitem”, salienta.
A doutoranda conta que aqui no Brasil tem investigado outras formas de ensino, principalmente focadas no estudante, que é o usuário final da educação, e tem “apreciado” que tem encontrado. Para ela, a diferença cultural entre os dois países é mínima. Embora tenham sido colonizados por países diferentes da Europa, Portugal e Espanha, acredita que a população mantém suas tradições ao longo das gerações familiares.
No programa de Educação e Novas Tecnologias, Denise imaginava aprender a criar e programar o aplicativo. No entanto, afirma que os aprendizados têm surgido para além da prática, especialmente na forma como enxergar e implementar a pesquisa. A docente acompanhou a recente banca de defesa do mestrado de Juliana Richter, que tratou da criação de uma prova ível para pessoas surdas com baixa visão e contribuiu com reflexões a respeito da própria pesquisa.
“[Ao ver o problema] você pode ser parte da solução ou simplesmente assistir. Pela experiência laboral, a vida me pôs em lugares específicos que me fizeram abrir os olhos para coisas que não imaginava […] Quando você olha verdadeiramente a realidade, tem um choque muito forte e você mesma questiona-se ‘Para que estou aqui? O que tenho que fazer?’. Eu vi em Juliana esse ânimo de mudar as coisas. Posso fazer algo para ajudar as pessoas, sobretudo as pessoas que sofrem”, declara Denise.
Um ensino pensado para além dos interesses do mercado
Renzo já atua, nas formações em que trabalha, com a eficácia da educação, que mostra como gerenciar recursos de forma mais eficiente para uma construção com menor custo, menor tempo e menos erros. Por isso, na pesquisa quer aplicar os conceitos de ensino para além da vertente mercantilista, mas que pense no melhor tratamento de recursos para o usuário final, que são as pessoas que irão ocupar aquele espaço construído.
Além da gentileza, hospitalidade e respeito com o próximo, atitudes compartilhadas entre os latino-americanos, de acordo com o pesquisador, ele destaca também a recepção e disposição dos colegas em partilhar experiências e perspectivas sobre os estudos. E ressalta ainda as orientações que são direcionadas para aplicação direta com os estudantes.
“Vemos justamente a questão das avaliações como um ponto, às vezes, muito exigente, mas que não qualifica corretamente o aprendizado ou as competências adquiridas. Analisar toda a experiência anterior dos educadores brasileiros nos permite identificar deficiências que são vistas no Peru e que podem ser resolvidas ou podem ser aplicadas para melhorar. Temos alguns pontos semelhantes em comparação na educação latino-americana, como Peru e Brasil. Temos pontos de vista muito bons, semelhantes e integrados, [então] tentamos incentivá-los”, conclui o mestrando.
Cavazzani lembra que “um bom professor sempre tem algo a dizer”, e isso surge da pesquisa, do conteúdo, e dessas experiências proporcionadas. Amplia não apenas o repertório, mas vocabulário e leitura de mundo.
Sobre o Programa Move La America
A partir da portaria nº 84, de 19 de março de 2024, a CAPES oportunizou bolsas individuais para estrangeiros da América Latina e do Caribe no Brasil. Com o objetivo de “complementar os esforços de internacionalização das instituições de ensino superior”, a iniciativa permite o “fortalecimento dos programas de pós-graduação e criação de um ambiente institucional internacional”, informa o portal.
“A ciência é, por excelência, colaborativa. Esses processos de encontro, de interlocução com outros pesquisadores fazem a ciência crescer. Por isso que se investe”, afirma Cavazzani.
Através do edital 07/2024, o PPGENT foi contemplado para o acolhimento de dois estudantes estrangeiros, por um período previsto de três meses. Até então, mestrandos e doutorandos daqui já tinham a possibilidade de ir para a Europa e outros países da América Latina, inclusive com bolsa de estudos da CAPES, para o formato “sanduíche”. Nesse caso, os estudantes fazem um intercâmbio para realizar parte da formação na instituição de origem e a outra parte em instituição estrangeira.
De acordo com o coordenador do PPGENT, Luciano Frontino de Medeiros, a CAPES quer que os programas incentivem cada vez mais essa articulação da pesquisa que acontece no Brasil com o exterior. O docente destaca que, a partir da experiência, os pesquisadores podem investigar como determinados aspectos da pesquisa acontecem em um outro país, em termos culturais e educacionais, o que contribui para o avanço de teses e dissertações.
“[A aprovação no Move La America] nos coloca em uma situação privilegiada, que realmente mostra esse movimento de internacionalização que a Uninter tem feito nos últimos anos, como na graduação com a expansão de polos em outros países. Nós estamos preocupados em fazer essa articulação da internacionalização acontecer também no âmbito da pós-graduação”, conclui Luciano.
Autor: Nayara Rosolen - Analista de ComunicaçãoEdição: Larissa Drabeski
Créditos do Fotógrafo: Nayara Rosolen